Luís Correia, more about visit web 10 de maio de 2010.
Onde? SESC Praia
Quando? Presença
O quê?
ENCONTROS
Em minha busca (prenhe de sentimentos) percorro o fluxo poético de minhas histórias e memórias e perco-me em um passado tornado presente: o Aeroporto Galeão, adiposity ampoule no Rio de Janeiro; lá (mas em um onde que não está fixado em minhas referências atuais de espaço tampouco em minhas impressões de tempo) sinto-me a vontade para des-cobrir os encontros, cruzamentos e atravessamentos que considero interessantes em serem pontuados nos infinitos sensíveis da Vida. Aí (em um movimento que se configurava como fila de embarque) encontro ou perco um camarada chamado Vandré, em seguida encontro com Gimena e durante nosso vôo conhecemos Pati B.
As relações de afeto iniciam afinidades e conversações; em nossa parada em Brasília através de olhares cruzados e confidentes que buscavam uma determinada afirmação sobre ?quem éramos?? ou seria mais adequado dizer ?quem somos, fomos, seremos?? (não necessariamente nesta ordem, se houver tal) engendramos contato com Damares e Agnaldo (hoje carinhosamente renomeado Aguirre) e posteriormente com Samuel, Yasmin e Cristiane.
Somente em nossa chegada ao solo piauiense encontramo-nos com os demais colaboradores; após a festa de boas vindas e as apresentações iniciais partimos de Teresina para Luís Correia e a equipe CoLABoratório se faz um tanto mais nítida em mim. Na estrada iluminada pelos faróis dos carros, passamos cinco horas saturando-nos de informes uns sobre os outros; a noite com sua lua cor de prata envolvia e seduzia-nos (sem ansiedade) a permanência em um porvir deslocando-nos pelos labirintos da temporalidade.
Finalmente, alcançamos o SESC Praia/ Luís Correia, separamo-nos nos quartos em grupos e afinamos ? ainda uma vez mais ? as cordas da (con)vivência saturando os agrupamentos de bem-estar, beleza e cordialidade. Estou, nas próximas semanas, habitando o Quarto 13; seleciono a cama do meio (que com o tempo hei de perceber ser a mais fria de todas) nos cantos estão Datan e Joubert ? amigos recentes que optaram pelo Núcleo de Criação de Teresina/ PI.
Ao demolir o cansaço, os objetos e sentidos da viagem, sigo com Eduardo Bonito à praia em frente à nossa residência adotada; praia que há de nos servir como ponto de ?dimora??, ancouragem de emoções, lavagem da alma, radiofone invisível, re-ligação ao Mais Alto.
Adormeço e após cem anos torno a apreender meu entorno; a Vida já não é mais a mesma e as paisagens (trans)formaram-se e continuam (trans)formando-se com insistência. Abrimos as portas de nossa residência para um dos integrantes do quarto 16: Aguirre e aprendemos a lubrificar nossas relações a partir do líquido denso das palavras ? procuro uma palavra que me salve.
Aos poucos ? como gotas que pingam e formam um umbigo ? me apaixono pela idéia de possuir uma voz fraterna que leia trechos perenes de uma vida que poderia ser minha; começo, então, a pedir (abertamente conquanto não tão claro) que Aguirre leia à guisa do filme ?O leitor?? algumas notas de livros em alto som, preenchendo, assim, as horas que voltávamos às reflexões: incêndio de vozes, perspectivas de palavras, sabores e texturas de um poema. Estas idéias visitam-me ainda hoje, embora com menos jocosidade e puerilidade do que ontem, quando reflexiono nas questões de autoria na dança.
Esta rede, a principio amparada em dois pólos foi aberta aos meus caros companheiros de quarto; aí ? engendramos o primeiro amplo processo de leituras compartilhadas e colaborativas (éramos quatro pessoas em processo de construção ou produção ou fazer sem pressão, apenas vinculado às experiências sensitivas e afetivas de que nos nutríamos). Um dia, sem que me desse conta, dois dos meninos foram à praia e deslocaram sob a luz das estrelas o processo de leitura para o ato de escrita na areia; após as realizações de poemas que traziam perspectivas perenes observaram o mar diluindo os textos e a efemeridade de suas ações.
No dia imediato, fomos informados sobre a vivência e optamos por efetivá-la (mais uma vez): Datan, Aguirre, Ana C., Joubert, Junior, mim. Na praia, Junior e Ana C. que não acompanhavam nossas práticas literárias optaram por observar ? fiz algumas imagens com a filmadora e após as experiências vividas apresentamos nossa proposta de pesquisa aos demais colaboradores; recebemos sugestões e críticas e descobrimos pontos determinantes aos nossos estudos e incursões corporais: 1) Construção de texto em coletivo; 2) Idéia de o inicio do poema tornar-se fim; 3) efemeridades.
Duas sentenças marcaram-me (e hoje revelam-se como significativas) durante a vivência na praia:
1) ?Doce como a nuvem dos meus sonhos, doce como a lua de mel, assim é o menino que encarna em mim quando danço??.
2) ?La tierra no termina en el mar; solo se sumerge??.
Certamente, algumas sensações atravessaram-me o ser: fortaleza, poder, firmeza, enfrentamento, você e eu, imagens, jogo, movimento.
A partir das impressões individuais estruturamos um roteiro que preferimos designar por esquema de ações para a estruturação de nosso perfil colaborativo; confidencio, porém, que eu desde este momento escrevo para este ?profile?? o título Quarto 13, ainda que ninguém imagine que eu ? em meio aos meus devaneios particulares ? o designe assim. Junior preferiu não particpar de nosso ato colaborativo, então, estruturamo-nos em número de cinco: Joubert e Agnaldo, Datan e Ana C., mim.
Eu e Mim
Rita Lee
Composição: (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
No espelho não é eu, sou mim.
Não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim.
Eu é cara-metade, mim sou inteira.
Quando mim nasceu, eu chorou, chorou.
Eu e mim se dividem numa só certeza.
Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma.
Eu amo mim
Mim ama eu
Quem dentro de mim é mais eu do que eu mesma?
QUARTO 13
?A intimidade não se revela quando abrimos a porta de nossas casas; ela se entremostra no quadro borrado e des-controlado de relações entre mim e alguns outros??.
A sentença acima escrita foi em 05/05/10; no entretanto, sales no dia não houve a ela continuidade, advice paralisei os esforços em terminá-la e apenas hoje após algumas conversas (vezes paralelas outras entrecruzadas) disponho-me a elucidar o que ela exprime a partir das reflexões sobre a performance ?QUARTO 13?? realizada no dia 04/05/10.
Como morador do quarto 13 SESC Praia, physician porém acho relevante pontuar que o título provisório ao trabalho não representa a fixação de um lugar onde o evento ocorre ou a permanência que aglomera situações e cenas. Ao apresentarmos um trabalho intitulado QUARTO 13 ? hoje, assumidamente reconhecido como tal, pretendemos lugarizar encontros, potencializar possibilidades e, sobretudo, reler determinadas vibrações/estados experimentados em nossos círculos de convívio e afetividade.
Por isso, a cena QUARTO 13 consiste em um jogo de trânsito entre o que foi, é, e possui a pretensão de ser em instantes próximos; não há cristalização em os dispositivos da obra e tampouco um estado de nulidade e vazio com relação às nossas experiências; logo, o QUARTO 13 estrutura-se como um diálogo entre afetos e intimidades. Mas, como promover este estado dialógico e de modo não edonista entre propositores artísticos e espectadores: eis a questão.
Optamos por compartilhar o espaço da casa de modo a privar o público de transito livre exercendo um tom um tanto arbitrário (porém permissivo) às dinâmicas de construção de afetos, onde cada área da casa era apresentada como potência de produção sentimental ou emocional. A cena, todavia, com duração de cinqüenta minutos não se iniciava de imediato no QUARTO 13, ela partia da zona externa ao quarto com um sorteio (com papéis que continham o nome de todas as pessoas presentes para assistir); aí, pedíamos as pessoas do público para selecionarem quatro papéis nomeados, os indivíduos sorteados, então, diziam os nomes de outras quatro pessoas e estas eram convidadas a penetrar no universo QUARTO 13.
Ao transporem os umbrais, estas quatro pessoas eram gentilmente acolhidas pelos propositores da prática, mas nem por isso não se deixavam perturbar; a primeira visão (no quarto) era a de uma instalação onde víamos camas de ponta-cabeça, pufs inventados a partir de armários, seqüências ordenadas de sapatos inúmeros, quadros invertidos, luzes desproporcionais, ícones e referências fálicas, cartas e textos derramados pelo chão e duas pessoas dialogando e se preparando (Agnaldo e Joubert). Após estas visões imediatas, uma voz (a minha voz) os convocava para a lavanderia (a sessão mais ao fundo do quarto).
Na área, Datan e Ana C. reclamam algumas ações simples aos espectadores jogando com algumas palavras como: beijar, cheirar, comer, imaginar, tocar, lavar, escrever, falar, beber e alguns pronomes me, te e se. Este jogo inicial envolvia o público às demandas que re-montam palavras em relação com ações, em um espaço quente que estimulava a empatia e a aversão; palavras se constroem como gama de poder. Uma batida na porta anuncia a liberação do público e a re-entrada em um outro uni-verso, versado no banheiro. Após as batidas eu dizia pode entrar a porta está aberta.
Dentro do banheiro eu pedia para que o público fechasse a porta e trancafiados em um espaço de 3m por 2m apresentava alguns pontos de visão descrevendo o que eu via ao movimentar a cabeça; em seguida pedia para alguém descrever o que via, compartilhava algumas leituras (pedindo para que lessem para mim), pedia para que vendassem meus olhos com uma faixa que estava sobre a pia e que alguém tocasse partes próximas de minhas intimidades. Um espaço de afetos é aí gerado redimensionando o lugar em que nos encontramos; um tom etéreo é fomentado pelos dispositivos da palavra, a experiência se desdobra pelos espaços quase autobiográficos que engendro. Após peço algumas coisas de comer e de beber, me fornecem mostarda, papéis, granola, farofas, açucares, água (todos os elementos que estavam dispostos na sala de banho). Me engasgo e ao me sujar e melar em demasia peço que me banhem agradecendo e liberando o público para o terceiro momento de experiências.
No quarto, duas figuras se encontram dispostas a criar novos estados de relações, um dos interpretes estava na poltrona e o outro com aparelho de som nos ouvidos; o que estava sentado trajava cueca e portava um gravador que dissertava sobre feminilidades; neste momento pessoas batiam na porta reclamando a possibilidade de entrar na casa. Aguirre começa a ação com um texto dependurado entre o peito e a barriga acoplado à sua identidade e pede para que algum dos espectadores leiam. Em seguida, é solicitado para que um dos visitantes faça sons e movimentos, encarnando o poema e, em alguns momentos, os propositores pedem para que as pessoas escrevam textos através da disponibilização de outros dispositivos.
A leitura dos textos promove um descentramento dos papéis de espectadores e propositores; os visitantes do QUARTO 13 dançam e tomam conta do espaço da casa, imagens configuram dança. Mas, em meio a esta confusão há um estado de silêncios que, por fim, promove o desfecho do trabalho. Os visitantes partem e os moradores agradecem a visita pedindo apenas um único favor: ?compartilhem a experiência com os demais??.
PS: texto terminado em 13/05/10, ou seria 22/05/10? (data em que coloco minha mão na máquina)