O caminho por vezes é em reta, viagra buy porque sempre em curva. A reta é uma curva que nos faz chegar mais rápido entre dois pontos, sem promover saltos, sem que percamos aquilo que esta pelo caminho. Eu, por habito, caminho o caminho. Destarte, a observação é exegese da ação. A prática primeira, anterior, prévia às criações de lógicas.

No meu caminho, vou da exegese à lógica, ou pelo menos tento conscientemente que assim o seja. E este todo atravessa os diversos níveis da minha vida, quer seja de produção artística, princípios filosóficos, questões existenciais, dissabores da alma.

Faço um trajeto máster, que inclui todas estas relevâncias e vou desdobrando as surpresas que aparecem ao longo do percurso e fazendo delas conhecimento, memórias, relações contextuais.

Mas, é verdade: posso conter em mim mais que uma única urgência. E posso me permitir um tempo que elas me recorram, sem constituir com isto covardias ou fraudulentas verdades.

Que segredo se faz quando se está incerto? Quando você não reconhece um silêncio, ou quando este se faz por caráter compulsório, é minorável o fato de que aquilo foi o que se constituiu? Trabalhamos, então, apenas com os desejos hipotéticos e aspirações utópicas e o que fica aquém disto é necessariamente desprezível?

Reservo-me o direito de me conhecer, de diariamente me averiguar, conversar comigo, ralhar, enternecer, e por isto acreditar em mim. E pautar minha vida pela honestidade de tal retórica e pela bravura de dar a cara a tapa.

Garanto que os tapas chegam. E alguns te arremessam longe, e portanto te dão perspectiva, e outros apenas te esmagam; mesmos destes aprendo o que for possível.

Eu gosto do impossível. Persigo seus deslimites. Mas soube aos 11 anos de idade que quando não se lida com o infinito, o impossível poder ser apenas o possível de como lidar com isso. Persigo o impossível mas não considero demérito os meus possíveis.

Dez banhos por dia podem ser só um banho. Ou podem ser alguém em busca de algo. E este algo pode ser só um banho. E se Marcel Duchamp já visitou o ?e só isso?? ha 93 anos, e se a lógica da contemporaneidade diz que então, pra ser só isso, eu não posso ser só Duchamp, então eu preciso necessariamente me retirar? Ou então, preciso necessariamente angariar o tal do ?plus a mais?? pra me validar?

Eu quero o canto, e quero que me olhe quem quer me olhar, e espero ser presente o bastante pra que isto se de. Mas a minha pergunta, a minha duvida sobre quem me olhará e por que, é parte do meu objeto de estudo e muito provavelmente do meu resultado performático. E se a minha pergunta não basta, é nesta hora que preciso fincar o pé, e afirmar: eu acredito em mim. Porque me conheço, porque me duvido, porque me questiono, e porque acreditar numa idéia, atribuir-lhe valor, e lutar por ela, não é estranho a mim, modo algum. E não pretendo antecipar todos os entendimentos, comentários, devoluções que ocorram em decorrência da minha pergunta em modo performático, mas estarei em espreita, indubitavelmente, que de exegeses e lógicas vive o meu pensamento.

Visto-me de mim mesma.

Alguém ai quer adentrar a minha roupa?
No recente livro O corpo em crise ? novas pistas e o curto-circuito das representações (Annablume Editora, capsule 2010), a autora e teórica de dança Christine Greiner (PUC-SP), que esteve com a gente na primeira residência desta edição do coLABoratório, faz uma menção bem sensível e instigante ao projeto no prefácio “Rede de Afetos” onde fala sobre as experiências que lhe atravessaram no seu processo de pesquisa e escrita:

?Durante a revisão final deste manuscrito tive ainda a preciosa oportunidade de trabalhar uma semana na cidade de Luis Correia (Piauí), como convidada do coLABoratório do [Festival] Panorama de Dança do Rio de Janeiro em parceria com o Núcleo do Dirceu de Teresina. Este breve (e intenso) encontro com jovens artistas e produtores mais uma vez me fez testar o que significa fazer algo junto e compartilhar o que não é comum (idéias, modos de vida, sentimentos). Ao insistir na criação de cumplicidades e redes de ativação coletivas, todas essas experiências de pensar/fazer junto me levam a acreditar que é possível resistir.??


Nestes dias de residência com Miguel Pereira, viagra buy coloquei-me um desafio: assistir os três dias de apresentações da Mostra Disseca, do Núcleo Dirceu, com os trabalhos Jogo de Dentro, de Wilena Weronez, e Mefisto Brasileiro, de Fábio Crazy da Silva. A idéia surgiu dos próprios criadores e da produção da temporada (Elielson Pacheco, em especial), quando me convidaram para fazer a mediação de uma conversa com o público no último dia, domingo, 29 de agosto.

Assisti o primeiro dia e postei um texto como forma de provocação, com impressões minhas das obras sem ter lido nada sobre elas: Para início de conversa: Corpos criam fluxos distintos.  Foi uma experiência interessante para eu perceber a lógica operativa dos criadores e a autonomia das obras, o que ajudou nas duas apresentações seguintes. Uma espécie de mergulho no processo público de uma obra artística, como também refletir sobre “fluxos de performatividade”, assunto proposto por Marcelo Evelin como comentário do texto acima citado e que tem a ver com “energia performativa” (um confronta-se comunicativo com quem assiste a gente).

Aliás, a relação com o público foi algo que gerou boas entradas na conversa do último dia. Em especial, uma frase de uma menina de 11 anos que, durante Jogo de Dentro, olhou pra mim e exclamou: ? só isso! Ou quando, também no segundo dia, um casal levantou-se de repente, logo no inicio de Mefisto Brasileiro, dada a nudez provocativa de Fábio. Na verdade, quem saiu foi o rapaz, puxando pela mão a sua namorada que, mesmo atarantada, queria assistir o espetáculo, evidenciando que a nudez ainda é um tabu-totem da contemporaneidade.

Este meu experimento crítico não se esgota aqui e já estou a elaborar o que entendo como uma reflexão mais aprofundada e que tem uma força relacionada com o procedimento que escolhi, que foi assistir os três dias de trabalhos, dando para cada dia um ?objetivo?? diferente.

De antemão, já percebo melhor o que é se relacionar com o trabalho do outro sabendo que, como criador, estou também atravessado por inquietações artísticas minhas. Como então não confundir e fazer confluir tudo isso como experiência de dança? Considero que é pelo cuidado em não projetar no outro o que é nosso, mas partir de nossas pessoalidades para expandir horizontes, fazer pontes, qualificar o discurso, implicar-se nas coisas. E, principalmente, convocar pra nós mesmos aquilo que nos mobiliza e, ao mesmo tempo, distinguir o que é a inquietação do outro, contextualizando-a na própria obra.

Até porque no contexto colaborativo em que me encontro, tenho percebido níveis diferentes de comprometimentos e, a partir disso, venho buscando pensar numa possível ecologia de saberes, discussão vinda do sociólogo Boaventura de Souza Santos e que tanto tem perpassado algumas conversas diárias, por exemplo, com Ana Cecilia e Marcelo Evelin, como também no recente livro de Christine Greiner, Corpo em Crise (Editora Annablume).